quinta-feira, 3 de junho de 2010

Cronicas de um Narguilé aceso.




Conheci Luís Cocha, vocalista e guitarrista da banda com seu mesmo sobrenome no último dia do Festival Chapadão ( nome bem apropriado pra um festival nao acham?! ). Enquanto esperava ali, longe do palco e da platéia devidamente assentada nos bancos de cimento do teatro de Arena da praça da Bandeira, sem perder de vista e de ouvidos o que acontecia lá, mas também sem dispersar minha atenção das lorotas que Luís me soltava sem cerimônias. Foi quando me veio com uma literalmente do fundo do baú. O moleque me pergunta: - Ei Fábio! Tu lembra daquele show que o Narguilé fez na praia de verão do Teresina Shopping? - Junto com a pergunta desencadeou-se em meu cerébro uma descarga de hormônios catalisadores de sinapses neurais que só conseguiria expor claramente se usasse uma dessa imagens de cinema feitas em computação gráfica. A memória se fez em minha mente como um filme. Esse tal show que o Luís me perguntara, e que realmente aconteceu, foi uma negociação ferrenha num esforço pra que tocássemos na tal praia artificial do Teresina Shopping. Apoiados no argumento que o Narguilé era ( ou ainda é? ) uma banda anarquista e sem modos, e que seu público era ainda mais mal educado do que a própria banda, a diretoria do Teresina Shopping dizia: Jamais! Nem pensar! Tirem o cavalo da chuva e o jumento do sereno porque aqui eles nao tocam! Enquanto Suzane Jales, que na época era produtora artística da tal praia, dizia: Mas eles são bons! São a representação cultural mais potente do nosso estado! Embora eu não acreditasse no que Suzane dizia, concordei com ela mesmo assim e tava doido pra tocar na Praia sem ondas do Teresina, por um cachê merreca, pago pela tão potente representante do sistema capitalista piauiense. Negociação vai, negociação vem, clima tenso e mais uns tantos policiais militares na frente do palco pra impedir que o público "mal educado" do Narguilé botasse areia na praia sem ondas, tocamos o que viria a ser um show que eu me esqueceria mas o Luís fez questão de me trazer a recordação à tona. - Eu tinha 12 anos e era a primeira vez que via o Narguilé ao vivo. Eu tava com o braço no gesso que eu quebrei de uma queda - Diz o moleque que agora ao me contar a história tem 20 anos de idade. - Exatamente a 8 anos atrás, eu havia começado a sair de casa e fui parar nesse show. Quando vocês começaram a tocar, a multidão de punks começou a pular e a dançar feito louca. Foi aí que eu percebi que tava num lugar perigoso. Aí eu disse: Meu irmão, o bagulho aqui é louco! Enquanto tentava proteger a mim e a meu braço quebrado. Depois daquele dia nunca mais fui o mesmo. Agora eu tenho uma banda. Uma tatuagem nas costas e uma na perna escrita o nome dela - E foi com a sensação de ter construído além da história do Luís, também muitas histórias que estão guardadas dentro de um imenso público que tem acompanhado o Narguilé durante esses 12 anos de banda. E com certeza histórias de que nao faço a menor idéia de que existam, mas que estão ainda por mover as pessoas e fazendo nascer as novas bandas que alimentam o estômago dessa ingrata Teresina infernal.

3 comentários:

  1. Isso ae, botei fé cumpade!
    Deixe o narguilé sempre aceso!

    ResponderExcluir
  2. uau, que registro foto-memorático. kkkk

    massa, tb lembro dessa zona, e de Luis contando. kk
    valeu fábio

    ResponderExcluir